Filme do Walter Salles Jr., show de Bethania e Caetano, uma consulta, uma risada, uma pontada, ovos com gema mole, o futebol na tv, marquinha roxa, caneca de cajuína gelada, a calçada do boteco, o samba pela janela, gente lavando roupa, amassando o pão. Um conhecimento perene e, ainda assim, insuficiente: a matéria vida é tão fina.
Choro porque não sei cantar e não é possível escrever.
Pensando em mudar a orelha dos meus livros e colocar assim na biografia: dona das divinas tetas.
A voz da Bethania é portal. Canal. Rasga o véu entre os mundos (#AvalonFeelings). A única transcendência possível pra mim. É dela a presença que me invade, percorre, ocupa, de mim transborda, a presença que faz recordar o que (me) importa.
A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença
É negra, negra, negra, negra, negra, negra
Negra, negra, negra
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença
Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza
A tua presença
Mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
Morena, morena, morena, morena, morena, morena
Morena
Sou uma pessoa que não mais recebe a correspondência em casa. Tenho uma caixa postal. É muito mais divertido ter uma caixa postal do que eu imaginava. E muito menos reservado. Aquela chave que recebemos, etiquetada, e o correspondente espaço em um armário de metal são apenas símbolos, sabia? Pois eu não sabia. Agora chego na agência e uma das funcionárias – que já me conhecem – levanta e vai buscar minhas caixas, embrulhos e envelopes na sala vizinha. E elas comentam os pacotes: “ah, você também recebe muitos livros, como o Napoleão, da caixa postal XXTY”; “olha, cartas!, quase ninguém recebe carta assim, de envelope e tudo, hoje em dia”., “eita, esse aqui é macio, que engraçado!”. Elas têm comentários, opiniões, observações sobre o conteúdo, o peso, o volume dos pacotes que chegam pra mim, mas jamais são invasivas ou indelicadas. Admirável equilíbrio. Como eu disse, muito mais divertido do que eu esperava. Ter uma caixa postal muda a relação com o tempo. No mesmo dia fui buscar - e recebi - uma carta avisando que alguns mimos/livros iam chegar, os próprios livros e a carta seguinte comentando os livros e perguntando se eu os havia apreciado. Sim, #shame, eu dei um intervalo maior do que deveria entre uma visita e outra à agência. Apesar da falha, eis-me aqui, sorridente, cercada de 3 novas e deliciosas cartas, um pacote com saco de cozinhar batatas no microondas, um embrulho com dois sutiãs novos, o livro da Pam Houston comprado no sebo, um livro novinho vindo da infame amazon, dois envelope-presente ainda a desvendar e outras miudezas, uma espécie de onda do mar do amor que bateu em mim.
Já vi passar pela minha TL várias vezes essas “correntes” em que cada um deve se definir a partir de 3 tal e coisas (filmes, livros, lugares, etc). Personagens, principalmente. E fico sempre tentada a participar, mas geralmente se revela uma missão meio impossível. Não sei se é porque me conheço muito pouco. Não sei se é porque há itens nos quais me vejo mas, suspeito, ninguém mais veria. Enfim, acabo decidindo não participar.
Mas um dia eu vi esse desafio dos remédios. Três remédios que nos definem. E ficou tão mais fácil. Pra dizer a verdade, nem precisei pensar ou elaborar muito.
Eu fiquei doente algumas vezes no fim da infância e por toda a adolescência, mas da mesma coisa. Falta de ar. Asma. Bronquite asmática. Alguma coisa assim. Meu peito não é lá essa coca-cola toda. Não consigo nem encher balão de aniversário. É aí que vida me dói.
Então, se me falta o fôlego, berotec.
Quando o aperto no peito é de outra ordem, sentar na beira do mar e deixar o ir e vir das ondas me fazer recuperar o ritmo.
Em todos os outros casos, me encolho na cama e espero passar. Aliás. Pois é.
também consigo me descrever através de remédio. hahahah e olhe que evito usar muito, mas tem uns que são delícias na minha vida.
um beijo.
Amo os Correios desde a década 1940 da minha infância. Adorei as suas não invasivas funcionárias. Já a nossa… Trecho da crônica Mensageiros, Portadores, Celulares, no tb antigo fb.
“Trocávamos cartas, que os Correios levavam para lá e traziam para cá. E faziam isso de forma rápida, barata e confiável. Certamente uma exceção que confirma a regra, no caso a regra da confiabilidade, havia uma funcionária numa cidadezinha perto da nossa, onde tínhamos parentes, que sistematicamente abria a correspondência antes do destinatário, tornando-se leitora privilegiada de nossos eventuais segredos.”