Newscoisa #12: mix de bilhetes enviados pra variados queridos
Mossoró, um dia qualquer da infintena,
O tempo anda esquisito, por aqui. Chove, bate um ventinho refrescante e não ando precisando de ventilador mesmo duas da tarde e forno ligado ali na cozinha. Não estou reclamando, se esse passar a ser o padrão mossoroense eu mudo feliz a minha resposta clichê quando perguntam da cidade. Deixo “quente” como adjetivo só pra mim. Esta semana saiu um gráfico no jornal e parece que, além de quente, eu sou rica. Não imaginava que os ricos ficavam espiando de rabo de olho o extrato do cartão de crédito e mastigando a tampa da caneta vermelha. Pela primeira vez faltei ao grupo de leitura. Não dei conta. Espero dormir tanto tanto tanto que até esqueça porque tão triste. Trouxe a radiola pro quarto. Ela também é vermelha, não uso espelho pra me pentear, misturo referências só porque é divertido. Ou era. Comecei três livros. Abandonei um porque já tinha lido. Outro, porque nunca tinha. E o terceiro nem procurei desculpa. Não fui Teresinha, pela primeira vez na vida tenho livros comprados e não lidos em casa. Pausa pra tristeza que a frase anterior me causa. Tirei os ímãs todos da geladeira (tantos que eu estava vendo a hora mudar o centro de gravidade). Cada ímã uma saudade, acompanhei a ação com umas boas taças de vinho. Chorei pitangas. Pesquei alguns e coloquei de novo só pra não deixar a bichinha nua, guardei os outros pensando: mesmo na pandemia vou encomendar uma chapa/placa de aço, pregar na parede da sala e enfileirar as lembranças. Liguei pra empresa que mexe com esses bagulhos. 400 dinheiros. Ainda estaria rindo histericamente se não houvesse tanto pra chorar, todo dia. Não fiz, claro. A vida não anda fácil mesmo para quem é rica. Pelo menos acertei nos bolinhos. Fui convidada para revisar uns artigos pra uma revista de administração. Fiquei com inveja dos autores dos textos, não pelos textos, mas pelos campos empíricos. Como era subestimado estar com pessoas. Aceitei mesmo assim, tenho que pensar no meu lattes – que faz tempo que já não morde (pelamor, alguém dê um rumo digno pro meu fluxo de consciência). Ganhei biscoitinhos deliciosos. Terei que beber mais e mais café. Morreu mais um dos meus senhorzinhos. Nem sei dizer quantas vezes vi Fama ou Mississipi em Chamas. E, não, não quero ler as críticas inteligentes me explicando os problemas desses filmes vistos à luz da contemporaneidade pós-modernista desconstruída etc. Sonhei com uma história que daria um conto incrível. Acordei de madrugada, peguei o celular e gravei um áudio para não esquecer os detalhes. Mas estou com preguiça de escrevê-lo. Acho que vou apagar o áudio. Também sonhei que ia participar de uma mesa redonda sobre futebol com o Trajano e o Jorge Jesus. E estávamos pelados, mas de máscaras. Eu escrevo de forma confusa. Uso pontos finais a mais e fica um amontoado de frases curtas ou, em outros dias, abandono todo pudor e vírgulas e temos parágrafos de dez, quinze linhas, sem nada de pontuação entre a letra maiúscula e um único ponto que indica que a idéia acabou e já se pode respirar. Todo dia minha agenda me lembra que esses seriam dias de Olimpíadas – eu quase não consigo respirar do aperto que dá no meu coração. Tenho 4 coloridos pimentões na geladeira, penso em fazer peixe, a pia está tão limpa, desisto, provavelmente passe o dia só com frutas, café e biscoitinhos. Tenho um abacate na fruteira e ele bem podia decidir amadurecer hoje, né? O corretor está acusando erro: eu ainda não consegui abrir mão do pauzinho da idéia. Mal-dito falo. Estou prontinha pra ter uma DR com o analista, aliás. Em outra editoria: acho engraçado quando relacionam Nara Leão só à bossa-nova (ela gravou bloco do prazer, gente! gravou samba, gravou um disco todo de Roberto Carlos – e nem era anos 80). Nara foi responsável por grande parte da minha educação sentimental, já falei quando mencionei Maria Moita, mas não só. Todo seu repertório me cutucou, me inquietou, me tocou, me comoveu. Nem sei dizer o que sinto quando escuto A Estrada e o Violeiro, dá logo uma vontade de bater perna, encontrar gente, transformar o mundo e sei nem o que mais. Se eu fosse o Fernando diria que Nara Leão devia ser feriado. Em mim ela é. Tenho uma listinha de pessoas assim (outro exemplo: a Agatha Christie). Hoje não é feriado, mas é domingo. Quero falar com tanta gente querida, mas não quero telefonar nem fazer chamada de vídeo nem de áudio nem nada assim. Minha mãe não considera mensagem digitada como digna de nota, mas é o que temos pra hoje. Como naquela poesia maravilhosamente declamada por Bethania: tenho saudades de tudo, quase. Até da luciana que mandava beijos tão despreocupadamente.
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Essa semana, no twitter, alguém comentou um texto meu sobre ciúmes e foi super gentil pra dizer: sigam a luciana. Não respondi na hora (tá difícil, tá mesmo), mas hoje procurei o post e tudo. Quem disse que acho quem foi a pessoa? De qualquer forma, fica o link do texto, caso você me leia, baby (espero que seja esse mesmo).
Queria contar que estou paquerando contigo, mas a gente ia fazer o quê com esta informação, uma pandemia e quilômetros de distância? Sigo catando a poesia que entornas no chão (Almanaque é um dos meus discos preferidos, anota aí no seu caderninho).
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Em tempos de covid:

Cantou o Luiz Gonzaga: nosso amor pede mais fuga do que essa que nos dão. Eu trocaria amor por desejo e afins, mas o cerne da proposição permanece. Falamos de pele, gosto, suor, cheiro, toque, língua, úmidos, rijos, entre, venha, até em começar pelos pés – veja a disposição! Sei não, sr. micróbio, que raiva de vosmecê, viu.

O seu dentro do meu, por exemplo
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Eu nunca fui fã da Simone. Achava ok e só. Provavelmente porque meu “gosto” musical foi precocemente definido pelos discos que meus pais tinham em casa. Nara Leão e Bethania eram majoritárias. Da Simone não tinha nenhum. Na adolescência, juventude, fiz amigas e amigos que ouviam e gostavam e me acostumei. Tinha o bairrismo, claro, que me fazia elogiar Pequenino Cão e tem as músicas de putaria que eu curtia mais, mas se fosse fazer uma playlist de cantoras queridas, provavelmente eu a esqueceria. Só que a vida é real e de viés e a beleza de novas amizades também é porque afetos, que não nos sabiam antes, nos reinventam hoje. Em conversa sobre não sei mais o quê, mencionei pra uma nova querida amiga uma coisa qualquer sobre Simone - que ela era sedutora cantando a dois, provavelmente – e, na cabeça desta amiga, eu falei isso por ser devotada apreciadora da Simone. E é bonito isso porque ela, que nem escuta nem gosta, passou a me mandar links acompanhados de comentários do tipo: “como você é fã da Simone...”. Como eu vou dizer que não sou? Fui me fazendo. Talvez isso, isoladamente, não tivesse tido tanto efeito, eu podia só ter desmentido a amiga e pronto. Mas estamos nesta pandemia, isolamento, etc, e Simone anda fazendo lives aos domingos e/ou aparecendo em lives tipo da Teresa Cristina de um jeito tão divertido, espontâneo, debochado, que me dá vontade de gostar dela. Gosto de gente que se diverte com o que faz, sabe? Um dos filmes que tenho grande prazer de assistir é Onze homens e um segredo porque obviamente ninguém ali tá se levando a sério. E é isso: fã, fã eu não digo, mas já canto Alma com bastante empolgação.
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Eu amo, amo, amo, quando recebo cartinhas de volta, quando vocês respondem às newscoisas, desde comentários extensos a emojis carinhosos. Obrigada, de verdade, por estarem por perto. Só não aprendi ainda como responder, mas pretendo.
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A mochila, pequena, basta para recolher as poucas coisas que foi deixando na casa dele: pente, algumas calcinhas, três vestidos, um casaco de outono, uma sandália. Talvez um brinco ou dois, que já nem lembra onde colocou. Nem chega a procurar. Mesquinharias que não justificam meia dúzia de horas de viagem cortando um país. Tenta lembrar porque precisava tanto vir. Os discos e livros, talvez? Sabe que não, não os levaria, pesam muito e ele gosta mais de os ter do que ela. E como separar os que foram comprados para apreciarem juntos? Ela não conseguiria. Suspeita que, um dia, vai rir um bocado dessa viagem. Tanta estrada e uma mochila tão leve. Antes do riso, o silêncio. Anos empacotados em uma pequena mochila. É só isso? Ele se surpreende. Ela, não. Sabe que é só. Quem não é? Sabe, também, que não adiantaria fazer a piada. Ele não entenderia. Esse era apenas mais um dos abismos. Se não sabe porque precisava tanto vir, lembra, dolorida, o porquê de não ficar.
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Essa semana as coisas foram meio paradas no À tarde fui nadar, mas tem textinho meu: Dory e um mar de lembranças.