Newscoisa #20 1/2: Dois pra lá, dois pra cá
Newscoisa #20 e 1/2: Dois pra lá, dois pra cá
"Hoje eu vim minha nega
Como venho quando posso
Na boca as mesmas palavras
No peito o mesmo remorso (...)
Hoje eu vim, minha nega
Querendo aquele sorriso
Que tu entregas pro céu
Quando eu te aperto em meus braços"
Nós já não teríamos pressa. Seria à meia luz. Você, calça, cinto e meias; eu, camisola com lacinho vermelho e ponta do pé. As mãos entrelaçadas encostadas no seu peito. Seu queixo em cócegas no lado do rosto. Passos lentos. Não saberia se é o teu cheiro, a batida tão alta do teu coração ou a cerveja que bebi antes, no boteco, mas me sentiria tonta. E, você, feliz que cantarola. Rodopios. Fazemos de conta que é uma vida, quando será apenas uma dança. Sabemos fingir que podia ser sempre o mesmo tempo: o tempo de ficarmos juntos. Sua barba misturada ao meu cabelo. Um suspiro, não sei se meu ou seu. Quase não nos movemos. Fazemos sombras que se enroscam nas paredes do quarto. Tudo morno. Fecho os olhos e é em azul o desejar.
*******************
Eu só não vou para o Japão por causa do micróbio do caraleo, bactéria filha de uma égua. Só por isso. Só mesmo. Só. Juro.
É difícil ter 45 anos e reagir como se tivesse 17, especialmente quando, com 17 anos, a pessoa reagia como se tivesse 45 #destreinada.
Hoje eu perguntei sobre você a um oráculo. E a resposta foi: “o mundo anda tão complicado”. Gentil e bom, você na minha vida.
********************

Eu tenho uma meia história pra contar. Ou nem meia. Um tiquinho de conversa sem começo nem fim. Era uma vez, um dia. E, nele, você chegou. Ou nelas. Palavras. Nas palavras. Palavras com sabor. Cheiro. Cor. Demandou um gosto de um jeito diferente do jeito que eu gostava. Acho. Anyway, lá estavam elas, as palavras. Parecem coisinhas bem inofensivas, as palavras, não é? Uma sequência simpática de letras e espaços, a gente vai cobrindo com um sentido socialmente convencionado e depois outro e mais outro e ri – e cria metáforas, metáforas, olha o perigo! já sabia o Kundera - e voilá, você está lascada. Pensava que estava cobrindo as palavras com sentindo, estava mesmo era se despindo. Sendo você, neste caso, eu. Pensando: como isso se fez, sem eu sentir, sem saber, sem notar. Como nasceu esse bem querer girassol. Desses que se inclina, fácil, em direção ao bom. Que procura a luz. Grande demais para ser bonito, mas a gente até esquece isso, alegre porque ele existe. Um bem querer que nem repara como destoa do jardim. Enorme. Meio desengonçado. Sem saber da vida útil. Ou inútil. Apenas é. Quente. Se a gente chega perto o bastante, ali, entre pétalas amarelas, no coração morno em sementes, bálsamo, pode-se ouvir o riso solto. Um bem querer girassol, que sabe que a noite chega, mas permanece, ativo, altivo, no por enquanto. Um bem querer sem pedido e sem promessa. Que não cabe no jarro, nos nomes, nos planos.
Um bem querer que só quer ser.
******************

(O Fred Caju é um poeta incrível e está lá no instagram)
*******************
Você perguntou porque eu escrevi aquele texto. Eu ri. Desconversei. Como eu podia dizer? como você poderia acreditar?
"Não fosse esse abismo entre nós, eu te convidava a dançar o meu último bolero". Só que onde tem abismo pode ler pandemia. E não precisa ser bolero, é só uma desculpa pra ficar pertinho mesmo.
**********************
Uma garrafinha no meio da semana, um gole, apenas.
Ou um assovio. Como Bacall e Bogart.
Se eu soubesse cantar, seria assim:

Maybe it happens this way
Maybe we really belong together
But after all, how little we know
Maybe it's just for a day
Love is as changeable as the weather
And after all, how little we know
Who knows why an April breeze never remains
Why stars in the trees hide when it rains
Love comes along, casting a spell
Will it sing you a song
Will it say a farewell
Who can tell
Maybe you're meant to be mine
Maybe I'm only supposed to stay in your arms a while
As others have done
Is this what I've waited for, am I the one
Oh, I hope in my heart that it's so
In spite of how little we know
Is this what I've waited for, am I the one
Oh, I hope in my heart that it's so
In spite of how little we know