Newscoisa #26: Namorando à moda antiga
Newscoisa #26: Namoro à moda antiga
"Havia uma guerra por todo o mundo
e todo o mundo
era dor.
E no entanto eu sussurrei em ouvidos preciosos
versos de amor.
Fez-me sentir envergonhado.
Mas não, na realidade não"
Jaroslav Seifert
troca aí guerra por covid
Estou namorando à moda antiga. Só não sei se é daquela maneira: mãos dadas no sábado à noite (mesmo que sábado seja, às vezes, uma quarta), telefone fixo atendido só quando dá, longas cartas e envio de presentinhos...
...ou é aquele formato antigo, ainda mais antigo,
em que o outro não sabe que é o namorado e, se descobrir, talvez termine.
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Quando a vida está difícil, uma boa massa, queijo, bacon e vinho.
Quando não está, também.
Manda carta, bilhete, postal. Manda cartão de natal no meio do ano. Boas festas, quando quer que elas aconteçam. Manda notícia de quem você é, de quem nós fomos, de como nos sabermos ajuda a respirar.
Então tá combinado é quase nada é tudo somente sexo e amizade e a convicção que os russos escrevem os melhores romances.
Os livros da Marguerite Duras tem sempre essa capacidade de me fazer lembrar que bons sentimentos são inconvenientes, a esperança é superestimada e quanto mais amamos, mais sozinhos estamos.
E porque já não é possível o silêncio, ela abre a veia e escreve na parede branca do hospital o cabeçalho do que seria mais uma carta de amor, inacabada ante uma dose maior de calmantes apressadamente injetados por enfermeiros de rostos assustados.
Então, é isso:
escrevo cartas na areia
e deixo que elas te cheguem em sal.
Até um dia desses eu nem sabia direito que existia, agora estou completamente viciada e não consigo mais imaginar a vida sem. Podia estar falando de você, mas é do Furikake que a Vivi mandou pra mim.
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Mas se não for amor
não diga nada, por favor,
não apague esse sonho
porque meu coração nunca sofreu de amor

Mas se não for amor
Não diga nada por favor
Não apague esse sonho
Pois meu coração nunca sofreu de amor
Você me olha desse jeito
Meus direitos e defeitos
Querem se modificar
Meu pensamento se transforma
Me transporto simplesmente
Penso coisa diferente
Vejo em você meu amor
Se não for nada disso fique perto
Dou um jeito e tudo certo
Não precisa se preocupar
Dê mais um sorriso e vá embora
Por favor volte outra hora
Eu só quero ver você voltar
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Girassol, xícara de café, banho de chuva, gargalhada de criança que nem sabe falar, cebola refogando, cafuné, nuvem fazendo desenho no céu, viagem de carro cantando bem alto, abraço apertado, a hora que apagam as luzes no cinema, manga, papel de seda, aquele livrinho do Verissimo, suspiro, ovo estrelado, arco-íris em poça d'água, toalha macia, gemidinho, roupa cheirosa, comida de milho, boteco que vira a noite, comer com a mão, cortar o cabelo, dançar xote, chupar cana, balançar em rede e cuscuz molhadinho com mão de vaca.
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No blog que é diário coletivo da 40ena, o À tarde fui nadar, tem texto da Eugênia, mas podia ser meu: Aqui, assim (eu quase falei de você, todo tempo, você, na ponta da minha língua) e um texto meu mesmo: Assíncrono (que nem é sobre escrever cartas, mas sobre enviá-las). E se você não frequenta ainda, tem minha dor, minha inveja e os motivos de furar o isolamento, n'O mundo lá fora, o mundo cá dentro, no Cais de Saudades, onde jogo âncora e embalo meu sentir.