Newscoisa #36: Prateou no ar
Newscoisa #36: Prateou no ar
"Hoje sou peixe e sou meu próprio pescador"
Vocês têm muitos planos? Projetos e coisas a fazer, a aprender, aspectos da vida pra melhorar? Eu nunca fui de programar meu caminho, vinha em uma vibe meio paulinho da viola ("não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar") meio zeca pagodinho ("deixa a vida me levar, vida leva eu"), mas aí, cataploft, 2020, muito tempo sozinha, olhando pro dentro do dentro, e deu ruim. Ou deu bom, ainda não decidi. Porque olhei pra minha vida e achei: olha, é isso aí. Carreira, filho, amores, amigos, família, pronto. Ponto. Parágrafo. Mas vem o quê no parágrafo seguinte se parece que tudo já foi e foi bom?
Este não é um texto de arrependimento. Eu quase nunca pensei: e se? É um texto de estilo. Flaubert dizia: Madame Bovary sou eu (marromeno assim, né). Somos o que fazemos e fazemos o que somos, com muito mais complexidade do que essa frase escrita permite entender. Uma coisa que faço é ir embora. Na hora que, se não é a certa, trato de fazer ser no só depois. Os anos de divã não me tiraram isso, os anos de divã não nos tiram o que somos, eles nos responsabilizam pelo que somos. Faço isso: vou embora. Um pouco porque suspeito que ficaria linda de chapéu e valise, pegando um trem em uma estação qualquer, tudo enevoado ou talvez sejam as lágrimas. O que faço é ir embora quando digo o que digo. Sou de âncora, não de raiz, digo e me torno. Afrouxo a corda, desfraldo velas, espero o vento que eu mesma soprei. E depois, em alto e solitário mar, leio cartas antigas, visito álbuns empoeirados e sinto falta do porto (e tem os navios que afundam, aí acaba ficando mesmo, nem raiz nem âncora, história).

Eu admiro quem tem aspirações. Você tem o quê, luciana? Preguiça.
Apesar de ler e escrever bastante, eu sou muito, muito desajeitada com as palavras. Tem uma amiga que eu sei que está sofrendo bastante, mas eu não sei o que ou como dizer. Tenho receio de atropelar e magoar mais do que confortar, com minha falta de savoir faire. Daí eu acabo não dizendo nada e passando por insensível. Se você está sofrendo, saiba, eu queria, mesmo, saber te acalentar.