Newscoisa #37: traição, escrita e outras revelações surpreendentes
Newscoisa #37: traição, escrita e outras revelações surpreendentes
"esta é a última coisa a lembrar: os escritores estão sempre traindo alguém"
(Didion)
Dois autores, dois presentes: Joan Didion, J. P. Zooey. Eu tenho amigas incríveis.
Coisas que eu sei que sou: preguiçosa, bonita, grata, desligada, divertida, enrolada, bem amada.
Os últimos minutos do segundo tempo da realização de um projeto que a gente deseja muito não passam nunca.
Faz uns 5 dias que eu tenho um jardim na minha varanda e cotidianamente eu acordo cedinho pra regar as plantinhas já pensando: ai, meus deuses, será que eu matei as bichinhas?

Acabei de ser apresentada à ideia de que eu sou uma pessoa muito equilibrada pois 52% yang (olha a surpresa, chupa essa manga), 48% yin.
não aguento mais fazer besteira e não me arrepender
Eu escrevo como quem repete clichês. Ou ainda: eu escrevo como quem repete, não sei bem o quê, uma prece, talvez. Escrevo a mesma coisa, as minhas mesmas coisas, com outras palavras. Escrevo como quem reconhece e aceita o Outro e a possibilidade da sua ausência. É porque o Outro não está que dirijo a ele o dizer. É porque o Outro me habita e me forja que dirijo a ele um dizer. Um dito como se fosse ponte, só é possível o contato justamente por reconhecer e apontar a distância. Escrevo como quem erra. A palavra, o endereço, o sentido. Escrever é sempre trair o que, não revestido em palavra, pulsa, verdadeiro. Impossível de ser nomeado. Escrever é viver outra vez. Ou algo assim. Foi a Duras que disse e ela dizendo, pra mim, é tábua da lei. Ou outro assim. Escrever é sempre uma aproximação. Uma tentativa de. Escrevo porque preciso. Mesmo sabendo que a linguagem é aquele cobertor da anedota, se cobre a cabeça descobre os pés e vice e versa. Ou verso. Mesmo sabendo que nunca vou dizer tudo. Tudo que sou. Tudo que preciso. Tudo que sinto. Tudo que anseio. Escrever é quase. Pior, mesmo entendendo que o que digo é nada. Cheguei aos blogs por acaso e com atraso. Escrevia antes? Claro. Longas cartas pra ninguém, por exemplo. Mas os blogs me ofereceram outra forma da escrita ser no meu mundo. Aproximações. Interlocução. Cheguei espalhafatosa, voraz, me espalhando em vários espaços. Muitos blogs. A ilusão de sempre. Dessa vez, quem sabe, eu digo mesmo. Eu digo eu mesma. Inútil, mas divertida tentativa. Junto com a escrita, a leitura. Outros tantos cobertores curtos. Gente que escrevia diarinho. Gente que analisava. Gente que poetizava. Gente que fazia retrato, em letra, do agora do mundo. Gente que admiro. Que aprendi a gostar nas linhas e entrelinhas. Como eu cheguei depois, mal deu tempo assentar. Veio o FB e as caixinhas de comentário do blog, aquele espaço lúdico de conversa, ficou vazio. Ou meio vazio. Um ou outro verborrágico (quem, eu?) insistindo em falar por todo lado. Mas o pique era outro. O FB é transitório. Tem sua beleza, mas é diferente de escrever letra a letra. De chegar no blog alheio e ler letra a letra. O FB afasta ou aproxima demasiado. A gente meio perde a etiqueta. O ritmo é outro. E o próprio FB foi mudando de forma e os algoritmos bagunçando os papos e as conversas ficando ainda mais esparsas. As garrafinhas são fronteira. Volto a escrever pra mim mesma ou, antes, as longas cartas pra sei lá quem. Ainda não saem certas as linhas. Tempo de vacas magras, quando a escrita sai em soluços de um parágrafo.
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Mas eu tenho o Marcos e a Heloísa. Olha, queridos, vocês me enchem de ternura porque lêem e comentam. Por serem, por serem comigo. Obrigada.
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Eles passarão.
Eu, passarinho.
Eles, baladeira.
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"Amiga, mas este homem é uma cobra!"
ué, é assim que eu gosto

Luciana e as tais revelações surpreendentes? Bom, tudo que é o dito ainda me espanta. E, sendo ainda mais sincera, fica um título muito mais interessante desse jeito.