Newscoisa #40: A ilha de todo dia
Newscoisa #40: A ilha de todo dia
"E um cheiro de amor
Empestado no ar a me entorpecer
Quisera viesse do mar e não de você
(...)
Porque seu coração é uma ilha
A centenas de milhas daqui"
No início do início dos tempos de computador em casa, tinha uma proteção de tela muito, muito divertida. Um homenzinho sozinho em uma ilha. Eu disse divertida? Deveria dizer instrutiva (descobri que tem a rotina completa do homenzinho perdido, aqui. Aperta e vem!)
Quando a gente está numa ilha (a gente sou sempre eu, vocês estão cansados deste aviso, já), vez ou outra nos perguntamos se adianta mesmo insistir em mandar os bilhetes nas garrafas. Chegarão em algum lugar? Lá chegando, terão algum efeito? Alguém se importa? Haverá um resgate? E, com algo que fica no limite entre a desesperança e alguma resistência, a gente para de soltar garrafas, fazer fogueiras e escrever HELP com cocos. Tentamos olhar pra ilha como lugar definitivo e procuramos decidir como sobreviver ali. Netflix, cervejas na geladeira, plantinhas na varanda, parece que vai ter até burrata qualquer dia desses. Afinal tem mar, não pode ser tão ruim assim.
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Receber a possibilidade de um depois em que me oferecerão canções bonitas em Canoa Quebrada e ter amigas que dizem: respira, olha esse reality tosco de presente pra te distrair, são gentilezas que permitem atravessar os dias.
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No aniversário de 20 anos, ganhei "A Ilha do Dia Anterior" dos colegas de faculdade. Eu tinha uma amiga neste grupo e ela escrevia as melhores dedicatórias, com canetas coloridas e uma precisão absurda no uso de trocadilhos inteligentes. Dezessete anos depois, levei poucos livros de ficção pra Lisboa, porque sabia que na volta do doutorado, teria excesso de peso da bagagem, etc. Mas levei esse. Que não voltou porque foi daqueles do incidente da mala incendiada no hotel (alguém não sabe desta aventura das temporadas passadas?). Esta é uma historinha de perdas. Tal como o livro que serve de mote pra conversa, o enredo importa muito pouco. O que me faz gastar letra, tempo, lágrima, é reconhecer o naufrágio. É impossível chegar ao não-lugar do tempo que já foi.
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Eu entendo a Scarlett, mas como um avesso, porque lá no fundo, bem no fundão, eu sou uma lady (não riam), mas queria mesmo era ser identificada como aquela que pode viver sem reputação.
E tinha A Ilha da Fantasia na televisão. Eu era menina, sem saber elaborar a sensação, mas já fascinada pela ingenuidade das pessoas que não percebiam o horror de se ter um desejo atendido. Toda aquela elegância e condescendência do Sr. Roarke não podiam ser inofensivas.
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"Você é minha tristeza e minha esperança, mas principalmente, você é o meu amor". A pessoa que chora com as coisas da Marvel não vale nada. No caso, eu.
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Como vai a vida, resumindo: um amigo teve que vir aqui, em frente de casa, arrancar a bateria do meu carro.
Peixe nada pra cima, nada pra baixo, né. Mas meus irmãos ainda me fazem gargalhar.
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Tá tudo mó paia, mas olha como o livrinho ficou uma graça.
O nome dele é Éter: 18 contos de batom borrado.
Tem dor de cotovelo, sacanagem, sentimentos aleatórios, rala e rola, alguma ternura, muitos ontens, uns poucos quem sabe. E as ilustrações do Yuval Robichek (no twitter: @yuvalrob) são uma lindeza. Lançamento da Drops Editora com projeto gráfico da Sany Alice (no twitter: @sacyaline).
A pré-venda já está aberta na Loja do Drops. https://dropsdafal.com.br/loja-drops/.
Quem comprar até 31/03 recebe o livro com dedicatória #VemGente.