Newscoisa #48: algibeiras, diálogos, buraquinhos e a distância entre nós dois
Status: ando assim de saúde...

Nota de pesar em cima de nota de pesar e nenhum tempo para o luto.
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Eu tenho poucas frases de algibeira. Algumas envelheceram. Repetia, toda paba: “comigo a anatomia ficou louca, eu sou todo coração”. Conversando com a amiga, atualizei a ideia: a anatomia ficou louca, sou toda cotovelo. Que acabou de bater numa quina. Cada momento, uma agulhada fina.
Façamos... – como cantam Chico e Elza, na versão pra música de Cole Porter.
Faremos! – aquelas promessas que nem precisam ser cumpridas pra causar alegria (mas, claro, melhor se. Muito melhor).
Você sabe, não sabe, que seu olhar organiza meu corpo inteiro, me dá forma, consistência, materialidade? O bem querer tão fácil. De dar o que se quer, quando e se puder. Receber sem esperar. Sem precisar medir, ponderar ou temer. Sem negociar. Entregar. Poder dizer: quero. Vamos. Sim. Explorar. Abrir caminhos pro desejo. E rir. Sem promessa. Mas com interesse. Tá dito: “se você me procurar, eu apareço; se você me encontrar, te reconheço.”
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"O nosso amor a gente inventa, pra se distrair". Check.
"E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu" Cazuza, você prometeu.
Você não tem culpa. Ou tem, mas só um pouquinho. De chegar. De completar a minha piada. De colocar o Cebolinha na conversa. De usar os apelidos que eu crio pra cada jeito seu. De saber as mesmas saudades. De trazer essa melancolia nos olhos. De doer nesse silêncio. De ter atravessado madrugadas. De precisar tanto do que eu gostaria de dar. Você não tem culpa de ser por aí e estar em mim. Ninguém tem. Mas vai me doendo mesmo assim.
Eu sempre fui boa em aceitar o por enquanto. O por agora. Sempre? Sempre acaba. Você tirou isso de mim. Eu digo: não mais. Mas eu sei e sei que você sabe. E você chama. Ou nem. Só se. Só quando. Nem sei completar as frases. Sou o ratinho destreinado no processo de extinção na caixa de Skinner. Um reforço aleatório e agora definho ao lado da barra. Referências que ninguém entende. Talvez você. Que nem me lê. Nunca precisei de um encontro no meio do caminho. Sempre fui boa em atravessar longas distâncias. Mas você saiu da estrada.
"Porque me arrasto aos seus pés
Porque me dou tanto assim
E porque não peço em troca
Nada de volta pra mim
(...)
Porque é que eu rolo na cama
E você finge dormir
Mas se você quer eu quero
E não consigo fingir
(...)
Você é mais que um problema
É uma loucura qualquer
Mas sempre acabo em seus braços
Na hora que você quer"

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“você que me faz feliz, você que me faz cantar“. Não sei de quem a Marisa Monte estava falando, mas eu sempre penso no Flamengo.
O que nos faz humanos é a incompletude, a falta. Não só a existência da ausência do que nunca existiu, mas os esforços que fazemos por conta dela, o quanto nos dedicamos a escamoteá-la, disfarçá-la, esquecê-la, negá-la e afins. Uma das mais e menos bem sucedida tentativa humana é a comunicação. A gente manda brasa na fala, na escrita, nos desenhos, whatever, com a ilusão gostosa de que pode ser que alguém, em algum lugar, receba a mensagem. Se por acaso recebem, um equivocado o quê vai acompanhado de um quem, onde, como, quando, que não são o que a gente espera (a gente sou sempre eu, mas dessa vez também é, um pouco, vocês). Mas tem a tirinha do buraquinho no peito. Sempre resta o assovio.

Água, minha netinha?
Azeite, vovozinha.
A vida deve ser a minha netinha.
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A menor distância entre nós é a da geografia.
Uma das piores coisas da infinitena (que não é o mesmo mal da pandemia, muito maior é a morte, o luto, o sofrer), é que me tranca com essa luciana esquisita e algo triste. Quero de novo o tempo dos gestos amplos, dos amores fáceis, da risada frouxa, da pele com gosto de sal, do olhinho baixo apertado de sol, das passagens aéreas, dos muitos livros, dos abraços apertados, o tempo de nem pensar no tempo (muito menos em lucianas).
Para o dicionário: filho não é sinônimo de bebê ou criança. Existem filhos de todas as idades. Inclusive, se uma pessoa tem um filho aos, sei lá, 30 anos, aproximando-se da expectativa média de vida de um brasileiro e vivendo até os 75 anos, vai passar 13 anos com um filho bebê/criança e 32 anos com um filho jovem/adulto.