Newscoisa #49: Tão logo a noite acabe
Newscoisa #49: Tão logo a noite acabe e o inesperado dos bilhetes lidos
Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
às vezes os bilhetes na garrafinha são pedidos de socorro
às vezes os bilhetes na garrafinha são hieróglifos
às vezes os bilhetes na garrafinha são transcrições
às vezes os bilhetes na garrafinha são invenções
às vezes os bilhetes na garrafinha são ilusões
às vezes os bilhetes na garrafinha são delírios
às vezes os bilhetes nas garrafinhas são lidos
Das expressões mais lindas: água quebrada a frieza.
Como eu sempre digo: a vida é um jogo.
Como eu sempre acrescento: infelizmente não prestei muita atenção quando estavam explicando as regras.

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Não sei se foram as plantinhas mortas na minha varanda. A chuva batucando. Aquela mensagem do tarot. O último pacote de guioza. Arrumar a pasta das viagens. Mas eu entendi. Você não vai ser ou fazer ou dizer ou agir como eu. Nem mesmo da maneira que eu quero. Ou do jeito que penso que seria bom pra você. Então eu fecho os olhos. E respiro bem fundo como se, tirando o ar ao meu redor, eu criasse espaço pra você se aproximar. É preciso mais, mais liberdade, então me dispo das roupas e da pressa e dos anseios e das certezas. Mais desprotegida. Mais entregue. E é tão bonito que nem dói. Como se fôssemos Paulinho e Elza, no iate do Comendador:
- Que voltarei depressa tão logo a noite acabe, tão logo este tempo passe para beijar você
- E de uma coisa fique certo, amor; a porta vai estar sempre aberta, amor; o meu olhar vai dar uma festa, amor, na hora que você chegar.
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Tomei a primeira dose da vacina esta semana. A segunda, no começo de agosto. Recesso em novembro. O quão reprovável seria eu pegar um avião e tocar sua campainha? Ou mandar por bilhete o número do quarto de hotel? Não teria bar, nem aquele tira-gosto, nem tudo aquilo que devia ser e ter, mas teria beijo na boca, conversa que nunca acaba e eu saberia, enfim, o seu cabelo entre os meus dedos.
(eu sei, eu sei, eu sei, eu sei demais que depende de como estarão as variantes e o desgoverno e as ondas e e e e e e e, mas você pode seguir sendo minha cenourinha?)
O negócio é que você me deixa contente demais.
Hoje estavam discutindo como seria o melhor primeiro encontro: cinema ou jantar. Eu ri, pouco importa o como, meu negócio é quando.
Tem gente que sigo no twitter que nem sabe que eu existo, mas me diz de um jeito que benzadeus. Sobre você, eu e as madrugadas:

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Na luta de classes, todas as armas são:
a) boas
b) pedras
c) noites
d) poemas
Justifique sua resposta.
Eu tento trabalhar, mas a CPI insiste em me abduzir.
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Tenho uma sombrinha vermelha na alma. Ela protege o que é preciso quando saudades choram em meu peito. E o colorido espanta a impressão de tristeza.
Nós nunca dançamos, é fato. Mas, na minha memória do que será, estávamos assim e seria tão bonito que me faltou o fôlego e minha perna bambeará e você disse: estou te abraçando. E todos os tempos são uma saudade.

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Eu sei que você sabe que eu sei que você sabe que:

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Futebol é um esporte de equipe, menos para o goleiro. Se ele levar um frango, mesmo que o time enfie uma goleada nesta mesma partida, ele será lembrado não pelo resultado do jogo mas pelo seu equívoco. Para todo o resto: não fez mais do que a obrigação. O goleiro que falha: trágico ou ridículo? Solitário. Solitário não só porque tem que se responsabilizar por todos os seus atos e decisões, epítome do homem autônomo e racional, mas porque vê, de onde está, o jogo que ninguém mais vê, meio torcedor, meio treinador, mas equidistante de todos estes lugares, inclusive do papel de participante da partida. O goleiro que falha sou eu tentando sustentar a alteridade, antígona com nariz de palhaço.
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A ideia de "vou aproveitar a quarentena para" nunca teve chance neste lar. Ainda assim é um pouco assustador como fracassa em todos os aspectos que consegui enumerar:
- economizar (ahahahah)
- cuidar da casa (casa desmanchando, troquei uma torneira linda por uma de plástico, só pra não ter que ir a uma loja)
- aprender alguma coisa nova (desaprendi até a ler)
- focar nos relacionamentos (não consigo nem marcar um zoom com amigas que eu amo)
- cozinhar mais e melhor (dieta principal acabou sendo pão com ovo)
- descansar (quantas noites não durmo, a rolar-me na cama, não é Lupicínio?)
Recebi dois comentários na última Garrafinha. Eu amo receber comentários. A sensação de que um tipo de encontro é possível. De que você, que leu, se importou a ponto de fazer também palavras suas e enrolá-las em um bilhete pra jogar no mar. Obrigada. Obrigada mesmo.
Os exemplares de quem comprou na pré-venda já estão chegando e é cada fotinha linda (não trouxe todas, é só pra dar um gostinho). Quem quiser, encontra para comprar aqui, neste link.


