Newscoisa #51: "Parada, pregada na pedra do porto"
Newscoisa #51: "Parada, pregada na pedra do porto"
“Todo cais é uma saudade de pedra”
Nem eu, nem o amor, nem a felicidade. O caminho, tal como o passo, é seu. Nem a felicidade, nem o amor, nem eu. Repito como um mantra, não para te convencer, mas para salvar a mim mesma.
Talvez eu fique devendo, mesmo. Não concluir. Não ir. Não terminar. Não fazer. Talvez eu defina um limite. Talvez eu deixe o dia passar, inútil. Talvez eu passe pelo dia, pela vida, inútil. Talvez eu folheie um livro. Do Verissimo, sempre do Verissimo. Talvez eu apenas fique aqui, deitada, vendo os desenhos que resultam da luz do sol filtrada em persianas. Talvez eu chore. Ou corte as unhas dos pés. Talvez eu esqueça. Talvez eu te esqueça. Talvez.

Ilustração de Yuval Robichek
Então eu me encolho na rede, soluço a angústia e escuto Lady Gaga até o notebook ficar rouco. E mesmo quando ela canta o tanto que dói, tento acreditar que você também tentou. Vai ver é a barba do Bradley Cooper.
Lovers in the night
Poets tryin' to write
We don't know how to rhyme but damn we try
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Disseram que mudei muito. Eu mesma já senti que mudei muito. Carregamos quase 500.000 mortos, sem tempo para o luto porque vem mais aí. Se a enormidade dessa dor não transformar alguém, sei lá do que a pessoa é feita.
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Pensar em você é doer. Acho que estávamos a meio caminho de alguma coisa. Não sei direito do quê. Sei que sinto. Sinto muito. Sinto sua falta. E sinto medo. Muito medo. Não há nada nessa indefinição de pra onde íamos que interfira no meu sentimento. Mas certamente interfere nas minhas ações. O quanto posso perguntar? E a quem? O que eu deveria fazer, além de sentir? Não sei, não sei, não sei. Fico esperando o amigo – este, sim, com lugar certo – e as notícias possíveis. Que já chegue o tempo do alívio e depois o da alegria. Eu nem acredito nos deuses, mas repito como prece.
Por favor, por favor, por favor.
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Gosto de pensar que lido com relacionamentos do mesmo jeito que com amêijoas: se abriu, eu como; se entreabriu, eu como; se não abriu, mas chegando com jeitinho, ela abre, ora, eu como também (lamentavelmente dei uma olhada em retrospectiva e talvez tenha deixado passar algum...marisco)

Ainda sobre o tópico: é um tanto triste comer amêijoa sem ter alguém que nos lamba os dedos.
eu sempre fiz chegar meu interesse de forma direta. resolvi ser sutil.
o inconsciente puxa meu tapete e gargalha na minha cara.
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Nós tentamos, eu sei, fazer bem um ao outro. Tentamos o riso, a cumplicidade, a saliência, a ternura e agora simplesmente alguma presença. Porque nos importamos, acho. Eu me importo. De um jeito diferente do que seríamos se não fosse esta infinitena. De um jeito diferente do que éramos. Você me mantém viva, e isso é distinto de qualquer desejo já vivido ou de qualquer tipo de “eu te amo”. Não maior. Não melhor. Outra coisa. Você me mantém viva, repito. Não viva para – embora quero, claro, quero sim, quero muito. Viva com. Viva no agora. Me faz lembrar que sinto. Que sou. Quem sou. Então, vivo. E viva! Viva isso, yay. Viva em vermelhos, camisolas, corpetes, cadernetas, o rubor na pele. Vivo você também, espero. Pela presença, pela ternura, pela cumplicidade, pelo riso e, porque não?, quando queira, pela saliência.
Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção

(quem tá quarentenando sozinho: não recomendo o clip.
Ou recomendo, desde que o banho frio esteja acessível)
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O sentir retorna, né? Temos de morrer de qualquer coisa. Estou aqui apostando em saudade ou torresmo. No por enquanto, mantenho-me no álcool, diz que preserva.
Comprei um macio e promissor jogo de cama. Pra disfarçar um pouco que não durmo com quem quero.
Aquele momento em que você desiste é tão bonito. (eu me repito? eu me repito)
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Eu abro as portas. O peito. As pernas. É fácil entrar.
O que as pessoas eventualmente esquecem é que também é fácil sair.
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A manifestação do inconsciente, numa madrugada insone. Trabalhamos.
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Em uma espécie de autorretrato, eu disse que escrevo sem vírgulas, ponto ou educação. Daí, estes dias, esbarrei novamente em Clarice: “desculpe eu estar errando tanto na máquina. Primeiro é porque minha mão direita foi queimada. Segundo, não sei por quê. Agora um pedido: não me corrija. A pontuação é a respiração da frase, e minha frase respira assim." E tudo se fez luz: me falta o ar.

E tem essa foto. Tão bonita. Uma Marilyn distraída da sua beleza.
E me toca como os manacás da Adélia. Tão meus. Eternos, eu, Ofélia e os manacás.
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E na Loja do Drops tem Éter:18 contos de batom borrado e outros anestésicos em várias combinações




