Newscoisa #60: Viagem no tempo, Olimpíadas, uma proposta, um convite e vários links
Newscoisa #60: Viagem no tempo, Olimpíadas, um mar pra cada um, um convite pra live e vários links
A humanidade sonha: viajar no tempo. Temos livros, filmes, conversas na calçada. Teorias, cálculos e aparentes grandes dificuldades. Digo eu: é fácil viajar no tempo. Antes do protesto e das provas em contrário, reafirmo, é fácil viajar no tempo, é bem assim: uma noite estrelada e uma pessoa espiando o firmamento. Eu. Ou você. Pronto. Os pontos de luz que atravessam nossa retina surgiram há milhares de anos. Algumas até já desapareceram. É isso, vemos e vivemos, ao olhar para estrelas, um evento que aconteceu há séculos. O tempo, o aprisionamos nos olhos ao bem abri-los. O tempo nos aprisiona em seu mistério ao bem fechá-los. Porque quando fechamos os olhos para melhor sentir, seja uma carícia, seja um doer, queremos nos colocar fora dele – tempo – mas é justo aí que ele opera, passa sem o sabermos e logo há histórias demais em nossa pele. Somos finitos, é certo, mas o que o tempos nos diz mesmo é que somos transitórios e, ao dizê-lo em estrelas que deixam de existir quando ainda as vemos, sabemos o eterno. É na beleza deste intervalo que a gente reconhece: ainda não, e nesta brecha a vida se sabe mais.
Contar o tempo em xícaras de café, folhas que se amarelam – nas árvores e nos envelopes nas gavetas, em beijos dados e sonhados, sabores na ponta da língua, contar o tempo em intervalo entre abraços, em espera do correio, em tamanho das crianças, em fome, em sono, em planos. Contar o tempo em cúmplices, em dores, em antigos amores. Contar o tempo em brancos, rugas, quilos, linhas. Deixar que seja o corpo o que ele se encaminha pra ser e aceitando tudo que o tempo fez na carne, o tempo que se fez carne, rir-se: o seu tempo é o meu. O meu tempo sou eu. Então, espero a noite, vou pra varanda, abro bem os olhos e vejo estrelas que sussurram historietas de olhares outros. É bonito isso, de não estarem mais em lugar algum e ainda poderem estar em tantos olhos distantes. Nos seus, talvez. O anseio chega: já que viajo no tempo, é possível transpor o espaço? Estendo a mão, simulando um toque que anulasse quilômetros. Em vão. Nuvens escondem as estrelas. Você fecha os olhos, a janela, o peito. Nunca um espaço em que nossos corpos se perdessem no tempo.
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A gente (a gente sou sempre, etc) acha que diz assim: o mar. E todo mundo sente e todo mundo sabe. E sente e sabe a mesma coisa, do mesmo jeito. Mas quando a gente pensa sobre isso uma coisinha, percebe logo que não é nada assim. Calmaria e tempestade, beira e alto, frio e morno, vazante ou cheia e eu ainda estou nos ous e descrições, nem entramos nos es e sensações. Eu posso dizer vôo, beijo, riso, quarto, desejo, suor, palavras, banho, adeus, sem laço e você ouvir não liga, tanto faz, superficial ou escutar demanda, compromisso, apego quando tudo que eu estou falando é oceano. Pode molhar o pé, pode mergulhar, pode ficar na beirinha fazendo piscininhas e castelos. O que eu estou falando é que você pode. E eu quero.
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Eu amo Olimpíadas. Amo, amo, amo. O quê nas Olimpíadas eu amo? Nem sei listar tudo. Amo a beleza dos corpos diferentes executando tão diversas atividades, levantando peso, equilibrando-se num pauzinho bem estreitinho, correndo, nadando, saltando, lidando com a bola de diferentes tamanhos e por aí vai. Amo aquela reunião de gente de todos os lados, se enfrentando em um espírito que mescla respeito, competição, admiração um pelos outros. Amo que tem mais países nas Olimpíadas que representados na ONU. A solidariedade entre as delegações. Amo os sucessos, as conquistas, a euforia. E não apenas as medalhas, mas aquela alegria que transborda ao melhorar décimos de segundo em uma prova, mesmo que isso te mantenha no mesmo 14º lugar do ranking. Amo as pequenas – e as grandes – superações, amo as lágrimas sejam elas do que for, amo o sorriso cansado, amo que cada um supere mais a si mesmo que ao outro. Amo. Claro que gosto quando chegam medalhas, mas são menos importantes que as histórias de busca por uma. Tenho este post da Tina nos meus favoritos. Poesia foi o que ela fez ao relacionar as imagens com o que se deseja (e o que encontro) nas Olimpíadas. Todas as vezes que vejo o post, choro – e fico contente de saber que ainda sou capaz de sentir.
Amo também todas as histórias e que elas me emocionem como o post da Tina. Por exemplo: vocês sabiam que quem inventou a volta olímpica foi um brasileiro? Foi Adhemar Ferreira da Silva, em Helsinque, 1952. Ele era um gentil. Treinando para aquela Olimpíada, aprendeu com antecedência a dizer “terve, terve” (mais ou menos um “salve, salve”) e cumprimentou as pessoas no aeroporto logo que chegou. E ainda cantou uma canção popular da Finlândia. Quem não ama? Essa empatia motivou, após o lindo recorde de 16,22 metros, a volta de comemoração. E as primeiras medalhas do Brasil, sabem como vieram? Delegação do Brasil foi de navio, mas o mau tempo fez o comandante perceber que não chegaria a tempo na Bélgica. Os atletas desembarcaram em Portugal e foram de trem. Não estes trens modernos e velozes, mas trens pós primeira guerra (imagina aí o desconforto, a lerdeza, etc). E embarcaram em um vagão aberto. E choveu. E o equipamento do pessoal do tiro foi roubado. Eles só puderam competir porque os norte-americanos cederam armas e munições. Resultado? Uma medalha de ouro no tiro rápido, uma medalha de prata na pistola livre e uma de bronze na pistola livre por equipes. E a primeira mulher brasileira (aliás, a primeira mulher sul-americana) a competir que quase não o fez porque não tinha um dólar (ouiés, um dólar) pra entrar na cidade olímpica? Quando a delegação brasileira chegou em Los Angeles, 1932, precisava de 82 dólares pra desembarcar seus atletas (um dólar por atleta). Só tinha 32. Resolveram priorizar os atletas com mais chance de medalha, que não era o caso de Maria Lenk. Ainda assim ela conseguiu entrar e fez história. E essas são histórias antigas, cada ciclo vai ampliando o álbum: o que dizer dessa menina, 13 anos, disputando uma Olimpíada, com chance de medalha? Rayssa Leal leva toda minha torcida e minha admiração (com 13 anos eu estava caçando paqueras, aprendendo a beijar e pouco mais que isso).

Então se me perguntassem eu diria que é absurdo realizar as Olimpíadas agora, que podiam ter esperado pro ano que vem, pelo menos, que é um risco expor tanta gente, etc. Entretanto já coloquei alerta pra Cerimônia de Abertura, coloquei três links com a programação no favoritos e tenho, tenho sim, intenção de assistir tudo que puder (e um pouquinho do que eu não puder também). Não tem nenhuma coerência no meu sentir, sorry.
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Não é possível tocar um futuro.
A mais imperfeita máquina do tempo é o desejo.
É um tiquinho humilhante sempre esperar uma palavra a mais.
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Convite: Sábado, dia 24/07, 19hs, teremos live no Instagram para falar sobre Éter: 18 contos de batom borrado e outros anestésicos. Serei sabatinada (brinks, estaremos conversando) pelas editoras Suzi Márcia Castelani e Fal Vitiello de Azevedo e pelo Fernando G. C. Amaral, que escreveu comigo 2 dos contos que estão no livro. Meu perfil: @lucianahnepomuceno. Me segue lá, ativa etc.

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Estou com blog novo, dividindo espaço com a queridíssima Babi: Para Embrulhar Peixe. Ela já escreveu textos incríveis: palavras daninhas e peixes.
Todos os dias recebo o Diarinho da Fal - se você não recebe ainda, manda DM pra ela no twitter @dropsdafal ou no FB (https://www.facebook.com/dropsdafal) - e isso tem me instigado a voltar a escrever com mais regularidade no meu blog pessoal (ok, talvez eu seja um pouquinho exagerada). Da última garrafinha pra cá, no Cais de Saudades, tivemos:
Gravei áudio lendo Adélia, como achei que ia me safar? ou Infinitena #dia484 #dia15nocalendáriokalúnico – apegos a um tipo de equivoco, e-mails que não foram escritos, receita de salmão, aleatoriedades sobre Friends, um cobertor verde pra nós dois. O google acadêmico manda mensagem dizendo que é hora de atualizar meus artigos. Eu leio: meus abrigos.
Minotauro – o meme do Ivair e seu cavalo, aflição, hospital, um coração entregue, marcas de cigarro, a revolta dos equipamentos, um moço chamado Paraíso. É muito, muito feio, mas às vezes eu volto ali, na caixinha, só pra espiar seu rosto e ficar passeando pelo labirinto que você construiu conversa após conversa e me largou lá dentro sem fio, sem Ariadne, sem esperança, sem companhia. Sem nem Minotauro.
Vinte por vinte ou Mate-me agora, amor – Óculos, Natal, sonhos, sopros, Clitemnestra. Era véspera e eu sozinha. Não que eu me importasse muito com a data, mas sempre gostei da sobreposição de vozes e risos. Não esperava e você chegou. Com suas muitas taças de vinho, sua culpa, seu desejo encarcerado. Palavras suas, não minhas. Hoje, espiando o álbum de retratos, vejo que entendi tudo errado. Ouvi: adeus e suspeito que você dizia: me abrace. Com medo de que você não tivesse pra oferecer o que eu queria pedir, não dei o que você esperava receber. Eu tinha esquecido que tínhamos uma música. Como eu não vi seu sol caindo no meu mar?
Um amor, desses de cinema - Assisti Monsieur & Madame Adelman e vim escrever que você também deveria ver. Talvez eu escreva isso porque Victor se apaixona pelo sorriso de Sarah e quem não gosta de uma bela brasa na sua sardinha? Talvez eu escreva porque a história começa em um bar, ele bêbado demais, ela empolgada demais, ele se arrepende, ela insiste. Sei lá, me soou quase assustadoramente familiar (alguém poderia argumentar que não era um bar, mas era uma espécie de boteco, não era? E havia vinho. Muito vinho). Talvez eu escreva sobre isso ou qualquer coisa como uma forma de sustentar essa imaginária conversa que desejo interminável e mantenha a impressão de um vínculo qualquer. Ou, plot twist, tem um jornalista me entrevistando pra futura biografia, vai saber.
aulas, hospitais, violinos, garrafinhas, filmes na tv e o bem querer abrindo o gás – livros, a mulher que fuma no portão, meu projeto de vida nas ladeiras lisboetas, as fotos mais lindas do mundo, referências misturadas, e essa tentativa de sobreviver ao amor: eu tenho olheiras, você tem bolsas embaixo dos olhos. Você tem farto cabelo e grisalhos, Os meus escasseiam, sustentando a cor. Você, um leão por dia, eu mal expulso uma esperança de dentro do quarto. Você, dois. Eu, um. Portela, Mangueira. Branco, vermelho. Bacalhau, sirigado. Sala, consultório. Um superego bem vestido, como o mordomo do Hopkins; um Id descabelado. Chopp, cerveja. Você fica, eu vou. O que isso importa? Nada, eu só gosto de escrever você e eu. (mentira, eu preciso des-descobrir a mágica, quem sabe listando divergências eu te perca em mim – te fazer sair eu já desisti).