Newscoisa #67: Nossos apelidos e uma saudade
Newscoisa #67: Nossos apelidos e tanta saudade
Daqui, em qualquer dia desses em que você não está, no 2o ano da (des) graça
Olá, moço bonito,
Estou escrevendo por que sinto sua falta. De qualquer parte de você. Não entendo muito bem a distância, afinal trocamos apelidos. Me dói um pouco contrariar o Verissimo. Mas espero sua volta. De qualquer você. Do jeito que você puder ser, da maneira que você precisar estar, da forma que você escolher. Não sei se você acredita. Não sei quão longe você precisou ir. Hoje te enviei uma charge. Sabe-se lá em que quando você vai ver, mas piadinha de nicho tem essa vantagem: não perde a graça com o tempo. Vou deixando um fio no labirinto, just in case. Ou, ainda, pedrinhas no caminho. Tijolos amarelos? (eu ainda escrevo coisas assim acreditando que você reconhece todas as minhas referências. E o que o que não conhece, adivinha).
Respiro mais fundo relendo o parágrafo anterior. Você repetiria: “sabe-se lá em que quando”. E suspiraria. Você suspira muito, dizemos. Quase sempre é um elogio.
Tanta coisa pra dizer. Pra perguntar. Pra mostrar. Jussara Silveira cantando Gangorra de Dois. Jussara Silveira e todo seu “Entre o amor e o mar”. Jussara Silveira, apenas. Falar por um tempão sobre Canções de Amor. Cantarolar em francês pra você – não, isso não. Limites, eu diria. Emojis de sorriso de um lado a outro. Um conto bonito do Rodolfo Walsh. Você conhece o Walsh? Eu não conhecia. Leia “essa mulher”, leia “essa mulher”, leia “essa mulher”. Talvez você cantasse Don’t cry for me, Argentina. Olha que ideia bonita (sim, você pode, já abusa de ter tantos outros limites, ora).
Também falar do mar. Da minha pele mais e mais macia. Do novo corte do cabelo. Das olheiras ainda imensas, mas já charmosas. Dos dias com noites menos doloridas. Das luas crescendo em mim. Da Odisseia. Eu, Ulisses - e minha casa é a viagem. De Barthes, que o amigo me fez tirar da prateleira. Dos pequenos planos. Dos desejos crescentes. Do riso mais e mais fácil. Do artigo no evento, na revista, no juízo. Da mão fria, do coração quente. Das flores na varanda. Da mala que arrumo. Do bom em mim.
Estou escrevendo porque sinto sua falta nessa vida que se promete melhor. Nessa vida em que eu já sustento os ombros retos, a cabeça erguida, o gingado no corpo, as mãos estendidas. Nessa vida em que os dias começam a se distinguir dos outros e as lutas se avolumam na porta além do sobreviver. Nessa vida em que já há sambas para frente, olha só que beleza. Nessa vida em que estradas são possíveis. Nessa vida em que, quem sabe, uma long neck no calçadão. O vento assanhando ideias e embaralhando passos.
Estou escrevendo por que sinto sua falta. De qualquer parte de você. De qualquer jeito que você quiser ou puder ou conseguir estar em mim. Não vamos contrariar Verissimo. Ou Cacá. E Gil. Há muitas formas de querer bem. Mais, ainda, de ser bem no outro. Já arrumei uma caixa de som. Nem faço questão que você esteja de pantalona branca.
Apesar do que o Caetano canta, eu esqueço que já esqueci. Se puder, venha. Se não puder, saiba essa saudade. E que você merece, sim, que se sinta – e muito.

No Cais de Saudades, alguns posts se empilham em outras formas de dizer os vazios:
Contente - Fechando o círculo: lembrei que tem gente que faz bem pra gente sem nem precisar estar com a gente, só por estar na gente.
Imaginar felicidades – Outonos, luas e saudades de tanto, especialmente de imaginar felicidades.
Ossada perpétua - Um amor geralmente é uma pergunta. Uma inquietação. Aqui chegando logo vi que sabia tão pouco, ou mesmo nada. E na mesma medida que chegava o encanto, chegava a vontade de conhecer. Essa suposição ingênua e recorrente de que, ao desvendar o objeto de amor, o teremos mais nosso. Quando muito, acontece de sermos mais dele.
Belchior - Há uma porção de coisas que nunca te direi. Porque não quero ou não posso ou não sei. Mas, principalmente porque você não estará por perto para ouvir. Há uma porção de coisas que nunca te direi. Porque não há palavras para elas. Porque são tão pequenas e a distância é tão grande. Porque doem ao sair do peito para a língua e, afiadas, cortam minha garganta no caminho.
Revisitando - Abrir portas, aguar plantas, acender fogo. Onde o sol entra a doença sai, diziam as avós ou dizem que elas diziam (...) sentir o corpo pedir repouso, espiar o céu, respirar fundo, fazer silêncio bem dentro, deixar o vento balançar cabelo e saia do vestido, fechar portas – deixando uma brechinha nas persianas. Já é quase um amanhã.
Cartas e carrancas - Porque hoje é sábado, futebol. E ainda que não fosse sábado, uma pontada com a derrota. Porque hoje é sábado, bater o martelo em uma casa pra chamar de minha no Rio. Um sapato vermelho pra São Paulo. Porque hoje é sábado, reler cartas e reinventar minhas respostas. Falando em carta, uma para o domingo: rainha de copas. Uma para o futuro: rainha de paus.