Eu tenho sentido saudades de tudo. Especialmente de imaginar felicidades.
Lua que míngua, pequenos planos, longas cartas engavetadas, gastos inesperados, imagens de Lisboa no HD, saudade do futebol, queijo errado, o pão certo, uma depilação esquisita, susto, café, café, café, sua foto me doendo, a vontade do livro que é caro demais, uma encomenda que não chega, espera, espera, espera, um tempo com Odisseu, desilusão, o universo já não me aguenta mais, a sensação de morrer em um mundo muito pior do que o que vivi, café, café, pão com patê de ricota e azeitona preta, exames, agulhas, corredores frios, máquinas enormes, batas ásperas, apenas um pedaço de carne, Fellini, Éris como deusa do mês, uma dúzia de garrafas de água vazias ao redor da cama, coisas por fazer, uma resposta atravessada, o samba da Mangueira para 2025, uma dorzinha fina como alerta, se não eu, quero nem saber quem vai fazer você feliz, opa, errei a letra e acertei o sentir, café, café, feijão e banana, dona das divinas tetas, escolher um conto de Capote, empilhar cadernos e baralhos, os suspiros, os muitos suspiros, alguns feito pequenos doces, a planilha de custos, Olhos nos olhos, uma péssima notícia, Edward Hopper pintando meus dias, vento nos olhos, alguma lágrima, cabelo azul, a pele macia, Bethania cantando à capela, uma história emperrada, a sensação incessante de pisar em areia movediça.
Já fiz longos testamentos na dramática juventude. Hoje em dia eu penso apenas em deixar saudades.
Seis meses sem praia.
O que me assusta mais? O não-saber ou a a vulnerabilidade? Ou são apenas formas diferentes de vivenciar a perda de controle?
Tem lugares aos quais retorno. Lugares onde meu olhar repousa e me conta coisas que eu esqueço. Coisas sobre mim. Coisas que alegram. E coisas que doem. Caravaggio é um destes lugares. O pintor, não a aldeia. Quero dizer, seu trabalho. Enfim, eu não sei nada de pintura. Sou uma bruta. Ignorante. Não entendo, não diferencio escolas e épocas. Só sei o que gosto. O que pode tirar sangue. O que grita o silêncio indescritível. Contemplar um quadro de Caravaggio é perigoso. Um enigma. Um desafio. O uso da luz. E as consequentes sombras. Tudo, tanto, eu.
Não sei se ainda se escrevem comentários , mas seu texto hoje me encontrou como um velho amigo, desses que faz a gente ter vontade de abrir a cerveja, acender o cigarro, e papear madrugada adentro. Poderia te ler a noite toda, melhor ainda seria aquela mesa de bar, nossas vidas em piadinhas infames, rirmos juntas do destino, imaginar cenários doces e dormir felizes. Beijo minha amiga
Os atropelos do fim de ano só me permitiram ler esse texto agora. Deu tudo certo e a parte pior serão os seis meses sem praia. Mas vai valer a pena. Um beijo grandão, vontade de te abraçar. Quando puder, dê notícias. Acho xxxx (na verdade, não sei o que acho, estou tentando polianamente dar um significado positivo) que tudo que tinha que sair tenha saído em 2024, assim 2025 fica com espaço pra te trazer o novo e o bom!